Recentemente li um livro do psicanalista Flavio Gikovate, no qual ele mostra como, nos relacionamentos afetivos, pessoas egoístas e generosas se completam. Isso porque os egoístas precisam se sentir o centro das atenções do outro o tempo todo e os generosos, por sua vez, precisam se doar sistematicamente para se sentirem bem. Assim, inconscientemente um alimenta a necessidade do outro, mas nem sempre de forma construtiva.
Fiquei pensando se o mesmo não ocorre nas relações de trabalho. Tendo a acreditar que sim e, nesse caso, não apenas pelas contingências psicológicas, mas também por questões de sobrevivência profissional.
Trabalhar com chefia egoísta provoca um desgaste emocional muito grande. São oito ou até dez horas por dia cuidando da vaidade e da prepotência do outro. Um chefe egoísta estimula a dependência, sufoca a auto-estima e é intolerante com os erros e as dúvidas. Cobra, mas não reconhece. Sabe, mas não compartilha. Consequentemente, o funcionário sente-se explorado e muitas vezes responde com sentimentos de deslealdade e descompromisso em relação à empresa, perdendo a alegria com o trabalho realizado. A atitude egoísta cria um círculo vicioso: dependência, erro, crítica, sentimento de menos valia, dependência e por aí afora.
Por outro lado, a chefia generosa estimula a autonomia, a proatividade e a aprendizagem. O funcionário sente-se grato pelos estímulos que recebe para o desenvolvimento profissional. A relação profissional é construída em cima da admiração,interdependência e respeito. Em um ambiente generoso aprendemos a cooperar, a ter jogo de cintura e a pensar na realidade dos outros.
No mundo corporativo, ainda se percebe uma concepção errônea sobre essas duas formas de atitude gerencial. O egoísmo é de certa forma, mais valorizado porque é percebido como o estilo ideal para lidarmos com a competição e as pressões do ambiente profissional. A generosidade, por sua vez, é vista por algumas chefias e empresas como falta de pulso firme ou até mesmo como subserviência ao outro ou à equipe.
Para quem está começando a carreira profissional vai aqui uma dica: Fique atento! Na hora de escolher a empresa onde estagiar ou trabalhar é importante pesquisar não apenas sobre o tangível – função, salário e benefícios, mas também sobre o intangível, ou seja com que valores você será conduzido.
Se você já está no mercado de trabalho há mais tempo, reflita sobre as suas atitudes e as de seus gestores. Desânimo e frustração podem estar vindo da convivência diária com um sanguessuga. É hora de rever como se tem lidado com essa realidade.
Se nas relações profissionais houver um predomínio de atitudes generosas, poderemos acreditar, como diz Gikovate, em um uma história profissional com o final feliz. Se não, é melhor deixar a porta aberta...... e na primeira oportunidade, começar a escrever outra história.
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